DIA MUNDIAL DA CRIANÇA: CONSTRUIR FUTURO

 

Recordo de quando era miúda, como era rico e proveitoso o tempo de lazer. Tinha direito a tudo, às rotinas de higiene, à participação nas actividades domésticas, aos jogos e brincadeiras, que principalmente no verão se estendiam pela tarde fora deixando uma sensação de tempo interminável. Claro está, que só mais tarde percebi o quanto estas variáveis foram importantes, permitindo-me crescer, treinar a autonomia, as competências motoras e a criatividade.

Todas as tarefas e em particular o brincar implicam um raciocínio indutivo/ dedutivo fundamental ao neurodesenvolvimento da criança na aquisição das competências físicas e psíquicas.

À arte de brincar está subjacente um processo de aprendizagem, permitindo à criança observar, questionar, experimentar e concluir, provendo um saudável desenvolvimento cognitivo, motor, emocional e social.

Por isso, e porque só faz sentido assinalar o Dia Mundial da Criança, com o objetivo de construirmos todos juntos, pais, professores e profissionais de saúde uma ponte para o futuro das crianças através da brincadeira.

 

E depois de tudo pelo que temos passado, confinados dias e dias, com pais em teletrabalho quase 24 horas, crianças em tele-escola sentados horas a fio, emerge de forma aguda a obesidade infantil e todas as consequências que dela advém.

A obesidade infantil está associada ao aparecimento de comorbilidades tais como a diabetes tipo 2, hipertensão, apneia obstrutiva do sono, dislipidémia, incontinência urinária e obstipação.

Como profissional de saúde e Fisioterapeuta na promoção da continência urinária e fecal na criança e jovem adulto reivindico o papel de todos os intervenientes em particular o médico assistente na abordagem da obesidade infantil e sua orientação para os demais profissionais de saúde tais como o Fisioterapeuta na disfunção urinária e fecal infanto-juvenil.

 

O excesso de peso e a obesidade promovem um aumento adicional de pressão abdominal sobre os órgãos pélvicos inferiores nomeadamente a bexiga e o recto assim como a distensão e perda de força ao nível dos músculos do pavimento pélvico (músculos que se situam entre o ânus e a vagina/pénis) que suportam os órgãos na posição anatômica, em particular quando fazemos esforço como tossir, correr, saltar, tendo um papel activo na continência urinária e fecal.

 

Não menos importante a forte associação entre a obesidade e a obstipação induzida por maus hábitos alimentares, diminuto consumo de água e baixo índice de actividade física, contribuem para a falência dos sistemas urinário e fecal dado o esforço acrescido associado à eliminação das fezes promovendo a falência da musculatura de suporte, do tecido nervoso e vascular originando dor, fissuras e hemorroides, evoluindo na idade adulta para obstipação crónica ou incontinência fecal.

Com efeito, a evidência científica, mostra que a intervenção no estilo de vida familiar com alteração no registo dietético e o aumento do índice de actividade física são as variáveis que apresentam melhores resultados, sem efeitos colaterais e os ganhos obtidos mantém-se no tempo na gestão da obesidade infantil.

Por conseguinte, a abordagem da obesidade infantil/juvenil necessita da intervenção de todos os intervenientes de forma séria com vista a identificar previamente as crianças de risco e trata-las através do reforço positivo, promovendo a educação para a saúde tornando-as jovens adultos "Capazes".

Intervenção no estilo de vida:

Beber água é a forma correta de hidratar e ajuda a prevenir a obstipação e o processo inflamatório da bexiga

Reeducar o acto alimentar, reduzindo porções e mastigar devagar

Interagir e participar de forma positiva todo o núcleo familiar ao longo do processo de reabilitação

Notar a importância do hábito do sono

Consumir alimentos ricos em fibra( vegetais e cereais )

Aumentar o índice de actividade física ajuda a perder peso e ao bom funcionamento do intestino

Respeitar a vontade miccional e fecal adquirindo hábitos de esvaziamento sem esforço e bem posicionado (quando sentado no wc deve ter os pés sempre apoiados)